O Design Gráfico no Brasil


O surgimento do Design Gráfico difere-se do design em geral, essa vertente emergiu da necessidade de se promover produtos, impulsionado – e impulsionando – pelo sistema capitalista e o processo de fetichização das mercadorias. Villas-Boas (2000) afirma que o Design Gráfico no Brasil é considerado uma sub-área do desenho industrial, o qual o profissional [desenhista industrial], através da atividade projetual “coteja requisitos e restrições, gera e seleciona alternativas, define e hierarquiza critérios de avaliação e engendra um projeto que é a materialização da satisfação de necessidades humanas, através de uma configuração e de uma conformação palpável” (MORAES, 1993).

Segundo a Associação do Design Gráfico (ADG) a definição de design gráfico inclui planejamento de projetos ligados à linguagem visual, com diversas funções: sinalizar, informar, organizar, estimular, persuadir, entreter e etc. Além disso, o trabalho do designer gráfico não se resulta apenas a mídia impressa, podendo trabalhar com diversos suportes materiais ou imateriais (digital). Villas-Boas (2000, p.11) nos traz um ponto de vista morfológico, ou seja, relacionado à aparência ou aspecto, onde define o design gráfico como uma atividade de ordenação projetual de elementos estético-visuais textuais e não-textuais com fins expressivos para reprodução por meio gráfico, assim como o estudo desta atividade e a análise de sua produção. Onde o termo produção abrange a ilustração, a criação e a ordenação tipográfica, a diagramação, a fotografia e o outros elementos visuais. Por fim, define o design gráfico como sendo a combinação de todos os elementos com fins e meios acima descritos, abrindo um parênteses para projetos muito específicos onde estes elementos possam constar isoladamente.

O universo de atuação para o profissional da área é amplo e variado, a ADG aponta seis vertentes em seu livro O valor do Design Gráfico, são eles: a primeira é próprio design gráfico, definido como responsável por marcas e logotipos; em seguida, o design institucional, que lida com a identidade corporativa gerando catálogos e outros impressos; o design editorial, responsável pelo projeto de livros e periódicos; design de embalagem, com alta importância na diferenciação de produtos; design promocional com papel definidor na promoção dos produtos e o design ambiental, otimizando espaços através da sinalização. Entretanto, a definição destas divisões são apenas algumas das possibilidades do mercado. Atualmente o design assumiu um papel importante na cultura contemporânea, como um definidor de linguagens, ultrapassando as barreiras da própria disciplina, se tornando multidisciplinar, como define Beluzzo (2011, p.62):

A sociedade contemporânea vem sofrendo grandes transformações, sobretudo no que diz respeito à inserção do design como um dos principais formatadores da cultura contemporânea. Isso quer dizer que o design, que antes era uma das principais antenas de captação de tudo o que acontecia em nossa sociedade e cultura, transcende o formato para ser um definidor de linguagens. Nesse sentido, o design (projeto) extrapola a fronteira das próprias disciplinas, desfocando os limites entre elas, conseguindo ser a extensão de linguagens e, ao mesmo tempo, a materialização de grande parte do universo da comunicação.

Segundo Villas-Boas (2002, p.33) o design gráfico é essencialmente interdisciplinar, tendo estreita interface principalmente com a comunicação social, as artes plásticas e a arquitetura. Além de possuir, “uma dimensão tão visceralmente cultural e contemporânea que se confunde com a própria cultura e com a própria contemporaneidade”, pois, “ele ‘fala’ da cultura e da contemporaneidade ao mesmo tempo em que faz parte delas e as realimenta: ele é sujeito e objeto ao mesmo tempo” (Ibidem, p.18). Uma característica do design gráfico em frente à cultura contemporânea é sua interdisciplinaridade, não podendo ser limitado apenas aos ensinamentos voltados à profissão, mas sim, entrando em contato com outras para tornar seus projetos viáveis. Bridgewater (1999, p.10) enfatiza o mesmo ponto afirmando que o designer deve estar familiarizado com todas as formas de reprodução gráfica e ser capaz de trabalhar com tipógrafos, fotógrafos, ilustradores e outros técnicos.

Para Villas-Boas (2002, p.22), o designer completo é uma figura incomum, quando não inviável – seja pela complexidade tecnológica que hoje envolve o processo produtivo da comunicação visual, seja pelas próprias implicações simbólicas que o design gráfico assume num universo cujas relações sociais são cada vez mais mediadas e cada vez mais simbólicas.

Bibliografia:
BELLUZO, Gisela. Novos enfoques para o design gráfico. In: Belluzo, G. e LEDESMA, M.(orgs). Novas Fronteiras do design gráfico. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2011.
BRIDGEWATER, Peter. Introdução ao Design Gráfico. Lisboa: Editorial Estampa Ltda, 1999.
VILLAS-BOAS, André. Identidade e cultura. Rio de Janeiro: 2AB, 2002.
_______________ O que é (e o que nunca foi) design gráfico. 3.ed. Rio de Janeiro: 2AB, 2000.


O texto acima foi desenvolvido por Felipe Henrique Marciano e Daniele Alves Gama Santos para o Trabalho de Conclusão de Curso de Design Gráfico no primeiro semestre de 2013.

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O Papel do Design na Sociedade Contemporânea

Design & Sociedade

Design, termo oriundo da língua inglesa, constantemente presente no cotidiano da sociedade, usualmente ligado aos conceitos de inovação e funcionalidade será abordado no presente texto, buscando apresentar as ambiguidades, apropriações e desapropriações de definições abordadas durante diversos acontecimentos históricos, que viriam a mudar as concepções a respeito dessa disciplina. 

Segundo ICSID, Design é uma atividade criativa cuja finalidade é estabelecer as qualidades multifacetadas de objetos, processos, serviços e seus sistemas, compreendendo todo seu ciclo de vida. Portanto, design é o fator central da humanização inovadora de tecnologias e o fator crucial para o intercâmbio econômico e cultural. Em conformidade com essa afirmação, é possível perceber que a primeira visão, do design essencialmente “estético e superficial” se torna simplória frente às múltiplas possibilidades que envolvem o ato de projetar. 

Flusser (2007, p.184) atribui o nascimento do termo design da separação brusca – e desastrosa – entre o mundo das artes e o mundo da técnica e das máquinas, onde ele [o design] torna-se uma espécie de ponte sobre esta brecha que foi instaurada, conectando os dois mundos. E conclui que, por isso design significa aproximadamente aquele lugar em que arte e técnica (e, consequentemente, pensamentos, valorativo e científico) caminham juntas, com pesos equivalentes, tornando possível uma nova forma de cultura. Já Cardoso (2012, p.15) afirma que o design nasceu com o propósito de “pôr ordem na bagunça do mundo industrial”, pois o grande aumento da produção e oferta de bens de consumo – entre os séculos XVIII e XIX – em decorrência do surgimento das indústrias, que possibilitavam a produção em massa, barateando os custos de produção e transporte, tornavam os produtores menos preocupados com a estética e com a qualidade. 

No que cabe à legislação brasileira, temos designado no Art 2º do projeto de lei Nº 1391/2011:
Designer é todo aquele que desempenha atividade especializada de caráter técnico-científico, criativo e artístico para a elaboração de projetos de sistemas e/ou produtos e mensagens visuais passíveis de seriação ou industrialização que estabeleçam uma relação com o ser humano, tanto no aspecto de uso, quanto no aspecto de percepção, de modo a atender necessidades materiais e de informação visual.
 Analisando os fatos apontados, é perceptível a caracterização do profissional da área como um projetista de produtos e serviços, levando em consideração uma série de fatores influenciadores, como: ergonomia – adequação ao ser humano –, usabilidade – facilidade de uso – e estética – percepção que os seres humanos tem da aparência. Além desses estudos, o designer deve estar atento às demandas da sua época, contextualizando a sociedade para achar soluções aos problemas do presente e do futuro. 
O Design ajuda-nos a criar realidades que ainda não existem, mas que são possíveis de existir no futuro. (GUILLERMO, A, 2011, p.94)
O design tem o poder de tornar o futuro mais adequado a sociedade que o viverá através dos projetos de ambientes e objetos inovadores que tornem a vida mais fácil e mais prática. Quanto melhor for o design para o futuro, mais pessoas acreditarão na sua eficiência e estarão dispostas a participar dele. A função do design é criar realidades que ainda não existem, mas que serão possíveis no futuro.

Bibliografia:
CARDOSO, Rafael. Design para um mundo complexo. São Paulo: Cosac Naify, 2012.
FLUSSER, Vilém. O Mundo Codificado. São Paulo: Cosac Naify, 2007. 224 pág.
GUILLERMO, Álvaro. Design, inovação e visão de futuro. In: Belluzo, G. e LEDESMA, M.(orgs). Novas Fronteiras do design gráfico. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2011.

O texto acima foi desenvolvido por Felipe Henrique Marciano e Daniele Alves Gama Santos para o Trabalho de Conclusão de Curso de Design Gráfico no primeiro semestre de 2013.

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O Príncipe


Começo esse breve post afirmando que tive o prazer de atualizar o status desse título como lido no skoob. Esse livro como você deve imaginar, é um clássico literário, sempre em destaque nas famosas listas de "livros que você precisa ler antes de morrer". Devido ao título sempre imaginei tratar-se de um romance ― gênero literário ―,  ideia contrária à imagem que eu tenho do autor como estudioso, sendo assim, já esperava errar esse tiro no escuro.
No entanto, fui surpreendido ao saber que o tema seria tão destoante ― ciência política! ― e que o livro na verdade foi um presente enviado por Maquiavel ― que não possuía nenhum objeto valioso para oferecer senão seu conhecimento, "apreendido por uma longa experiência das coisas modernas e uma contínua lição das antigas" ― ao Magnífico Lorenzo, filho de Piero de Médici, aconselhando-o a como agir nas adversidades que enfrentaria como estadista.

Na atmosfera inquieta do Renascimento, a obra de Maquiavel é dominada pela ideia da unidade italiana. O 'secretário florentino' procura meios próprios de formá-la e discute as formas de governo mais apropriadas à sua preservação. XAVIER, Lívio.

Maquiavel expõe as boas e más atitudes que podem ser tomadas, porém, deixa claro que uma má atitude, dependendo do contexto, pode ser uma boa escolha para o príncipe. Por exemplo, acaso ele esteja com boa reputação perante o povo porém inversamente proporcional à burguesia  ― que possui grande poder ―, é aconselhável que equilibre essa balança, mesmo que para isso deva lesar muitos para beneficiar poucos; podemos encarar como diplomacia. Enfim, todas as decisões possuem somente um intuito: manter-se no poder.

O único incômodo na leitura foi que apesar das diversas notas e do glossário de nomes que apresenta breves explicações citando pontos pertinentes aos exemplos mencionados por Maquiavel, tive certa dificuldade, e para entender completamente a obra teria que pesquisar as diversas personalidades citadas. Mas isso obviamente não tira o mérito do livro pois cabe ao leitor adquirir conhecimentos históricos.




Informações Técnicas
Título: O príncipe
Autor: Nicolau Maquiavel
Editora: Nova Fronteira (Saraiva de bolso)
Conselho editorial: Daniel Louzada, Frederico Indiani
Leila Name, Maria Cristina Antonio Jeronimo
Projeto gráfico de capa e miolo: Leandro B. Liporage
Ilustração de capa: Cássio Loredano
Diagramação: Filigrana
Equipe editorial Nova Fronteira: Shahira Mahmud,
Adriana Torres, Claudia Ajuz, Gisele Garcia
Preparação de originais: Gustavo Penha, José Grillo,
Luiz Alberto Monjardim
Ano: 2011
Edição: Especial
Páginas: 128
Acabamento: Hotmelt

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A produção de um livro independente


Atenção autores, designers e artistas independentes! Este post é para vocês.
Vamos lá, você teve uma grande ideia e vai lançar um livro. Mas, por onde começar? O que fazer primeiro?
Para responder essa e outras perguntas, a autora Ellen Lupton lançou livro A produção de um livro independente – um guia para autores, artistas e designers. 

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Ainda bem que senti as batidas do meu coração



Nesse último final de semana foi o lançamento do dvd do Criolo e Emicida aqui em São Paulo e fui ao show com o Felipe e o Guilherme (como já mostrado em um post aqui). Dentre os músicos convidados, estava o Rael, que eu já conhecia de algumas participações no cd do Emicida (Doozicabraba e a revolução silenciosa).

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A culpa é da estrelas


"Alguns infinitos são maiores que outros"
Ontem finalizei a leitura do livro "A culpa é das estrelas", do autor John Green. Primeiramente, vou elogiar o trabalho gráfico do livro, afinal é muito bonito, a diagramação é bem feita e a capa é bem chamativa. Falando em capa, nela existe a frase "Você vai rir, vai chorar e ainda vai querer mais", do autor Markus Zusak (A menina que roubava livros). A frase é verdadeira, o livro proporciona boas risadas e lágrimas em algumas partes.

A história se passa na vida de Hazel Grace, paciente terminal de câncer, que tem a sua vida prolongada por um remédio chamado Falanxifor. Aos 16 anos, ela tem que enfrentar as limitações do câncer e ainda tentar viver um pouco da sua adolescência. Tudo muda quando ela conhece Augustus Waters, rapaz jovem que é um sobrevivente do câncer, e que a ajuda a viver novas experiências e a conhecer o amor.

O que mais me interessou nesse livro foram os personagens e suas reflexões sobre as próprias doenças, algumas vezes com um certo sarcasmo. Foi uma leitura super rápida, senti falta de algumas partes da história, como um final para Hazel, mas gostei da forma como o livro terminou. Não é o melhor livro o mundo, entretanto é o tipo de livro que traz uma reflexão sobre o que você anda fazendo com a sua vida e qual está sendo o uso do seu tempo "infinito".

Felipe: A Culpa é das Estrelas permaneceu nas vitrines de livrarias por muito tempo (um indício de seu sucesso) e foi o livro preferido dos leitores brasileiros durante o ano de 2013, segundo o Skoob. Eu tenho certa aversão à tudo que é de gosto popular pois quando muitas pessoas gostam (pelo menos para mim), torna-se duvidoso o caráter da obra (independente de sua manifestação física) e de seus adeptos - vide sertanejo universitário e 50 Tons de Cinza.

Imaginava que este livro tratasse de mais uma história sofrida, pessimista e deprimente de um ser humano qualquer lidando com seus problemas e que havia encantado os leitores pelo fato de gostarem de sentir pena. No entanto, se você for debater ou criticar, entenda do assunto, então encorajado pela Daniele, realizei a leitura do livro. Eis que vem a revira-volta.

O livro é sensacional! Em sua capa está escrito: "Você vai rir, chorar e ainda vai querer mais", e isso é a pura verdade! A personagem principal é inteligente e sarcástica, no decorrer do livro você ri com as observações e brincadeiras que faz com seu próprio drama, uma qualidade que eu acho louvável, mas há quem não entenda, talvez devido ao senso de humor incompatível, à maneira de encarar a vida, ou pura falta de inteligência, nunca se sabe.
Aconselho para livro de cabeceira, aquele que você lê em casa, tranquilamente, pausadamente. Por quê? Porque se você ama seu filho, seu pai, sua mãe, sua namorada/noiva/esposa, em algum ponto torna-se-á impossível não chorar - sim, pasmem machões enrustidos de plantão. Contudo, se você acha que está livre de sentimentos ou emoções, ignore a indicação.

Mentiria se dissesse que a obra não me fez repensar atitudes, comportamentos, laços. Não lançarei mão do famoso bordão: "Esse livro mudou a minha vida!", mas classifico como uma daquelas obras que você lê de tempos em tempos para relembrar importantes valores que se esvaem aos poucos com a rotina do dia a dia, do trabalho, das pequenas brigas e diferenças.
Informações Técnicas
Título: A Culpa é das Estrelas
Autor: John Green
Editora: Intrínseca
Ano: 2012
Edição:
Páginas: 288
Acabamento: Hotmelt
Revisão: Umberto Figueiredo Pinto
Adaptação de capa: ô de casa
Diagramação: Editoriarte

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O Rock Errou?


Esse é o título¹ do primeiro volume escrito pelo jornalista Sérgio Pereira Couto dissertando sobre "Os maiores boatos, lendas e teorias da conspiração do mundo do rock" ― subtítulo da obra. Não acredito que a capa faça jus ao conteúdo, entretanto a composição "estranha" cumpre sua função de atrair o olhar do comprador.

Escolhi essa segunda-feira nublada para retirada de um ingresso num estabelecimento que convenientemente é localizado dentro de uma livraria ― e como indivíduo agraciado que sou ―, ao conversar com a atendente recebo a notícia que o "sistema" estava com problemas e o mesmo só funcionaria a partir das 14h. Uma terceira visita estava fora de cogitação, resolvi sentar e esperar uma hora e meia, pensando que poucos lugares seriam mais agradáveis do que aquele.

Admito que fiquei feliz em escolher essa obra em particular dentro das demais de mesmo estilo que a circundavam, o livro possui "causos" de ídolos e bandas de rock, tais quais: Paul McCartney e Lou Reed, Jim Morrison, John Lennon, Pink Floyd, Elvis Presley, Nirvana, entre outros, somadas a quatro capítulos de boatos desenvolvidos, boatos não desenvolvidos, mais histórias e lendas do rock nacional. É um livro para curiosos, não queira uma tese de mestrado repleta de notas de rodapé e fontes de onde foram retiradas cada sentença.  Li 48 páginas divididas entre Jim Morrison, Nirvana e Boatos Desenvolvidos, o vocabulário é fácil fazendo com que a leitura flua de maneira excelente e se dependesse unicamente de minha vontade, compraria para finalizá-la.

O autor deixa claro em diversos momentos que haverá um volume dois, abordando novos fatos. :)

¹ Acredito que o título faça menção e talvez seja uma resposta a famosa música de Lobão: "O Rock Errou".
Informações Técnicas
Título: O Rock Errou?
Autor: Sérgio Pereira Couto
Editora: Matrix
Ano: 2013
Edição:
Páginas: 216
Acabamento: Hotmelt
Editora responsável: Cristiane Costa
Produção: Adriana Torres; Ana Carla Sousa
Produção Editorial: Mônica Surrage
Preparação de Texto: Gabriel Machado
Revisão: Eduardo Carneiro
Pesquisa Bibliográfica: Amanda Braz; Tatiana Rodrigues
Projeto Gráfico e Diagramação: Celina Faria

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Criolo e Emicida


Meu treinador é Deus
Me escalou pra jogar
Olhou pro banco e disse:
Zica, vai lá!
Cumprimentei os meus
Me benzi pra atacar
Lembrei da frase ali:
Zica, vai lá!
No embalo dessa letra começou o show de dois monstros do hip hop nacional, Emicida e Criolo. Domingo, 14/07, eu, Daniele e Guilherme estávamos colados na grade cantando as músicas uma por uma e admirando a performance de toda a equipe no palco, desde os principais, passando pelas participações de Rael da Rima, Dj Niacky, Evandro Fioti, até a banda e os backing vocals.
O show diversas vezes apresentou uma melodia envolvente, com forte influência do samba e do reggae, onde a platéia acompanhava com palmas cadenciadas e gingava como podia no espaço que havia ― apesar deu não ter sofrido sequer um empurrão, o que o primeiramente me gerou espanto e depois alegria, de perceber a educação das pessoas que ali estavam.
Vamos embora para Bogotá
Muambar
Muambei
Vamos cruzar Transamazônica
Pra levar
Pra freguês
Vai ser melhor do que em Pasárgada
Agradar
Até o rei
http://youtu.be/u_d3qAqroK0?t=21s
Mas se você pensa que a descontração do ritmo transformou o show num pagodinho monossilábico medíocre, se engana! Fazendo jus ao rap nacional foram cantados clássicos como Grajauex, Não existe amor em SP, Lion Man, Nó na Orelha, Dedo na ferida, Rua Augusta, Triunfo, A rua é nóiz, além de homenagens como: Capítulo 4, Versículo 3 (Racionais), Rap é Compromisso (Sabotage), entre outras.
As letras descrevem o cotidiano das pessoas normais, que muitos consideram como "a vida na favela" mas que na verdade acontece também fora dela. E para quem ainda não percebeu, o rap evoluiu e a nova escola ― que traz sincero respeito pela velha guarda, como: Racionais, Sabotage, RZO, Thaíde ― levanta novos temas, situações, aspirações para o rap, além de palavras de apoio para quem vive uma batalha diária, pro garoto não desistir de seus estudos e pegar o caminho mais fácil (crime), perseverar no seu sonho, respeitar seus pais e não se envolver com drogas.
Emicida é muito criticado por fazer esse novo estilo de hip hop, que alguns insistem em dizer que está mais "pop", fazendo com que uma parcela ― idiota ― das pessoas intitulem-o como "vendido", que faz música para os "boyzinhos" lotarem seus shows. Podemos responder a esses argumentos infundados com uma frase do próprio: "E os faladores falam, toda vez / Têm problemas comigo, não, os problemas tão com vocês" e pra completar: "Filho, vê se não arrasta!" (Criolo).
Não escolhi fazer rap não, na moral
O rap me escolheu porque eu aguento ser real
Como se faz necessário, tiozão
Uns rimam por ter talento, eu rimo porque eu tenho uma missão
Odeio vender algo que é tão meu
Mas se alguém vai ganhar grana com essa porra, então que seja eu
E os que não quer dinheiro, mano.. é porque nunca viu
A barriga roncar mais alto do que eu te amo
Eu vi minha mãe, me jogar dentro do guarda-roupa trancado
Era o lugar mais seguro, quando a chuva levou os telhado
E dizia, não se preocupa.. chuva é normal
Já vi o pior disso aqui, ver o bom hoje é natural
E o justo, então antes de criticar quem cê vê trampar
Cala boca e pensa, quantas história cê tem pra contar
Falar que ao dizer ''a rua é nóiz'' pago de dono da rua
Desculpa, eu vivo isso e a incerteza é sua
Se você não se sente dono dela, xiu não fode!
E antes de escrever um rap, me liga e pergunta se pode

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